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27 junho 2014

Chorar é fisiológico, mas e daí se não fosse?


Eu tenho preguiça de gente que não admite que chora. Sério. Primeiro que: chorar é fisiológico, convivam com isso. Por mais que seja porque um cisco entrou no seu olho, seja porque você está cortando cebola ou simplesmente porque está triste: você chora, invariavelmente. Eu choro. As pessoas, no geral, choram. Fisiologicamente falando, nós temos glândulas lacrimais que são estimuladas por nervos que enviam a informação do sistema nervoso para elas produzirem lágrimas. Seja por qual motivo for. O caso é: TODOS choramos. Repito, negrito e sublinho: é fisiológico!

Chiliques à parte, vocês devem querer saber - ou não - porque eu resolvi desabafar sobre isso. Bom, se querem, continuem lendo. Se não, tem um X vermelho bem grande ali no canto direito da tela, é só clicar.

Ontem eu assisti a um drama e chorei. Chorei, tipo, muito. Mesmo. Eu me debulhei em lágrimas. Eu poderia sair nadando pelo meu quarto inundado. Meus olhos ficaram inchados, minha cabeça está doendo até agora e eu estou admitindo isso publicamente porque o filme realmente mexeu comigo e, diabos, o que é que tem de errado em chorar e admitir isso?

Voltando ao filme, nem vem ao caso qual era. Aliás, não era A Culpa é Das Estrelas, que ainda não tive a oportunidade de assistir, mas assim que fazê-lo tenho certeza que não sairei ilesa. Enfim. Foco. Eu assisti ao filme e, como de costume, achei a obra no Filmow, cliquei em "Já Vi" e fui passando meus olhos - ainda vermelhos e úmidos - pelos comentários. O enredo era sobre uma adolescente com câncer (poderia ser ACEDE mas não era), blá blá blá, enredo clichê, aquela mesma mensagem de sempre, aquela sensação de que não estamos aproveitando a vida ao máximo, etc, e tinha muita gente comentando sobre o filme, admitindo que chorou. Falando isso em tom pejorativo, COMO SE CHORAR FOSSE UM CRIME, algo vergonhoso. Como se fosse a pior coisa do mundo. Como se demonstrar que temos sentimentos fosse algo errado. PORRA! Qual é a droga do problema de vocês?

Gente dramática em excesso é um saco, eu sei, mas em todo caso essas pessoas que acham que vão parecer fracas por chorarem, ou por demonstrarem o que estão sentindo, também são! Tenho preguiça de gente que se esconde atrás de uma armadura, se faz de forte, mas está morrendo por dentro. Pre-gui-ça. Simplesmente não sei lidar com. Não quero lidar com. Porque eu não entendo como alguém pode achar que vai ser inferior por admitir o que está sentindo. Não entendo como alguém pode se menosprezar por chorar na frente de alguém, por admitir que chora. Lembrando que: é humanamente impossível não chorar. Uma hora ou outra vai acontecer. Todos sabemos disso. Então o que é que você ganha escondendo isso de todo mundo?

Enfim. Eu até pensei em fazer uma resenha, uma crítica, vocês sabem, aquelas minhas divagações, sobre o filme em questão, mas achei mais válido despejar a minha opinião sobre esse assunto específico. Porque eu não tenho vergonha/medo nem sou pior do que ninguém por admitir o que eu sinto, por confessar que eu chorei. E me sinto bem mais leve depois disso.

Sim, o filme em questão é "Now is Good".

16 junho 2014

Chega, sábado!


Segunda-feira, 6 horas da madrugada manhã. 

O despertador tocou. Controlando minha vontade de jogá-lo longe, abri os olhos e calmamente o desativei.

Não sei como ou quando isso aconteceu, mas reparei que adquiri o costume de dormir com a janela fechada só no vidro pra ficar mais fácil de ser acordada pela luz da manhã, mas hoje, quando olhei através dela, pude ver apenas o céu embebido em escuridão. Desejei com todas as minhas forças poder ficar dormindo até mais tarde. Não podia. Conformada, levantei e comecei a me arrumar. Um pouquinho de pó compacto pra esconder as olheiras e o mal-humor matinal; café preto e forte pra manter os olhos abertos e vamos lá.

Cheguei ao ponto de ônibus, sentei no banco e fiquei esperando, como de costume. Estava frio. Muito frio. Ainda não havia nem sinal de sol. Ao longe, vislumbrei uma silhueta se aproximando. Uma mulher. Ela sentou-se ao meu lado, me cumprimentou com um BAITA sorriso e eu retribui com um mostrar de dentes, tentando parecer educada. Nota mental: quem diabos acorda sorrindo numa segunda-feira? Enfim. Voltei minhas atenções para a prova que teria que fazer dali alguns minutos. Micro. Como era mesmo o conteúdo? Vírus, hepatites virais, vacinas, exam... De repente, sou desperta de minhas divagações. O ser ao meu lado, não bastasse SORRIR pela manhã, resolveu que seria uma boa ideia ligar o som do celular, sem fones de ouvido, e começar a CANTAR. Isso mesmo, senhores, CANTAR desafinadamente, diga-se de passagem. Respirei fundo e invoquei meu Buda interior.

Desviei minha atenção do cover de Wanessa Camargo até que, FINALMENTE, o ônibus chegou. Fui para a aula, fiz a prova e sem comentários. Terminei a prova e pude voltar pra casa. Mais uma vez fiquei esperando o ônibus no ponto e nenhuma figura relevante apareceu. Achei que estava livre das eventuais situações desagradáveis e estava, por hora. Mas lamento informar que meu sossego não durou muito.

O ônibus chegou, escolhi meu lugar, sentei confortavelmente e, para evitar eventuais "shows" que pudessem acontecer, coloquei meus fones de ouvido no último volume.

As pessoas continuavam subindo logo atrás de mim, sentando em seus lugares e em determinado momento eu vejo, andando em minha direção, uma criatura trajando um micro-shorts, que em nada combinava com o clima que estava fazendo, e uma regatada com os dizeres "MEIGA E ABUSADA" que, convenhamos, não combina com clima algum - nem escondida embaixo de três jaquetas. Mas até ai tudo bem, gosto é gosto. Ela sentou em alguma poltrona atrás de mim e ficou ali quietinha. Não teríamos Anitta sendo recitada em voz alta, ufa. Respirei aliviada. Até começar a ouvir uma conversa....

Foi sem querer, juro, inclusive eu ainda estava ouvindo música nos fones, mas a pessoa fazia questão de gritar - ela estava sentada em uma das poltronas no meio do ônibus e seu interlocutor era ninguém menos que o MOTORISTA. Não abaixei o volume dos fones, mas ainda assim peguei um trecho da conversa: "ele gosta de mim. Só de mim. Ah, e da mulher dele". A criatura falava sobre seu affair com um dos cobradores da tarde, o Galego, e o motorista enchia a bola do colega. Homens. Isso assim, de boas, no meio do ônibus lotado. Pra todo mundo ouvir. Gente é mesmo um bicho estranho, né?

Logo chegou o ponto em que a gatinha-do-Galego tinha que descer e lá se foi ela acompanhada de seu tom de voz estridente. O motorista mal esperou ela desaparecer de vista e começou a destilar seu veneno, rindo do pobre coitado do namorado da moça e alegando que o Galego estava podendo. Beleza. O cobrador da vez, que não era o Galego e não estava podendo, virou as costas e foi fazer seu serviço, enquanto, ao fundo, o motorista continuava falando sozinho e, posteriormente, contando uma piada (?). Perdi os gracejos, mas antes de descer eu pude ouvi-lo comentar: "hahahaha, essa foi boa, eu sou demais!" e depois emendou um "chega, sábado!"

O que posso dizer além de concordar com a frase do poeta da vida urbana? Nada, né? 
Então vide título do post e tenhamos todos uma boa semana, porque se não tá fácil pra gente, imagina pra mulher do Galego.

14 junho 2014

Her


Vocês já devem estar carecas de saber que "Ela" fala sobre o "amor" entre Theodore, um humano, e Samantha, um Sistema Operacional. Aliás, muitos de vocês, assim como eu, deviam estar esperando do filme só uma ideia de como esse romance poderia ou não se desenrolar, certo? Por um lado, é até legal assistir ao filme sem muitas expectativas, mas me sinto no dever de informar que ele não é só isso. A obra nos trás muitos outros questionamentos, informações, contrastes e questões filosóficas que nos fazem parar para reavaliar nossas próprias vidas e as atitudes que estamos tomamos. Quer saber como? Vou tentar explicar.

A atmosfera do filme é basicamente uma Los Angeles de um futuro próximo e podemos reparar algumas diferenças na arquitetura, nas roupas, mas é basicamente tudo muito parecido com o que temos hoje em dia. Talvez a diferença mais gritante seja que as pessoas fazem tudo, eu disse absolutamente tudo, virtualmente, via comandos de voz e gestos, mas isso nós sabemos que não é nenhum absurdo tecnológico. Visto que hoje em dia as pessoas passam os dias conectadas e as relações interpessoais estão ficando cada vez mais obsoletas, então o filme não está falando de uma realidade muito distante da que estamos acostumados. O caso é que na tela fica visível o individualismo, sendo que os humanos estão preferindo se relacionar somente com máquinas, que correspondem exatamente àquilo que eles desejam, do que com outros humanos que são imperfeitos e possuem características desagradáveis. A estagnação por parte dos humanos, a preguiça de se relacionar e evoluir através de experiências adversas ficam visíveis em alguns traços do protagonista que tratarei mais adiante.

Ironicamente, levando em conta as informações supracitadas, Theo é escritor e trabalha escrevendo cartas pessoais que reproduzem até a caligrafia do remetente. Já nos minutos iniciais do filme ele aparece recitando uma carta para o seu computador que tem a tarefa de transformar aquelas palavras ditas em manuscritas, como se fosse realmente uma carta. O filme prevê que no futuro as pessoas estarão tão ocupadas com a tecnologia, tão conectadas, que não sobrará mais tempo para parar e escrever algumas palavras para alguém querido. E já não é mais ou menos isso que está acontecendo?

Agora aprofundando-nos um pouco na vida e nos sentimentos de Theodore, nos é informado que ele se divorciou há mais de um ano e ainda não assinou os papéis do divórcio - ele simplesmente não consegue lidar com o fim. Ele e Catherine foram casados por algum tempo e cresceram juntos numa época em que o "contato" era realmente utilizado. Alguns flashbacks dos dois inundam a tela de carinho, amor e... toques, carícias. Um contraste gigantesco com o resto do filme que se passa no futuro com todo aquele ar tecnológico.

"Nós exercíamos grande influência sobre o outro."
Se sentindo solitário, Theodore vê num Sistema Operativo de Inteligência Artificial - criado para desenvolver uma consciência e se aperfeiçoar para suprir todas as necessidades do usuário - uma pontinha de esperança. Ele busca organizar sua vida e acaba comprando seu OS. Num gesto aparentemente simples, ele escolhe que a voz do Sistema deveria ser feminina e a partir disso sua vida toma um rumo completamente inusitado.

Ele e Samantha - seu OS que escolheu o próprio nome a partir da leitura de um livro de nomes para bebês - começam a conversar e ela logo torna-se tudo o que ele procurava. Ela o incentiva, arruma sua bagunça, lê seus e-mails, é engraçada, compreensiva, enfim, é um poço de qualidades, exceto pelo fato de não ter um corpo, mas isso não se torna problema. Os dois começam, então, a se relacionar e se pegam apaixonados um pelo outro. A grande dúvida que o filme joga no nosso colo é, portanto, se podemos acreditar que aquele é um amor real ou não. Seria Samantha apenas uma voz programada ou ela poderia desenvolver a capacidade de amar?

Em um almoço com sua ex-esposa, Theodore conta que está namorando seu OS e ela fica pasma, jogando em sua cara que ele nunca estivera realmente pronto para um relacionamento verdadeiro. Esse é o grande tapa na cara do espectador (e do personagem), que até então via-se envolvido no romance atípico. A partir disso, aos poucos, as dificuldades vão aparecendo e Theo, que se achava especial por ter alguém "ao seu lado", fazendo tudo por ele, decepciona-se ao perceber que Samantha estava conectada com muitas outras pessoas e que tinha se envolvido com outros sistemas também. Esse baque desperta no nosso protagonista uma série de dúvidas que você pode ter o gostinho de apreciar se assistir à obra haha.

Bom, sem querer me estender, vocês já repararam que o filme deixa muitas questões a serem respondidas por quem assiste, dá muito o que pensar e também apresenta uma pontinha do que podemos encontrar no futuro - se as coisas continuarem evoluindo como estão. É como um abrir de olhos para o rumo que estamos tomando e reforça a importância das relações entre as pessoas. Não vou contar o final do filme, mas se você já assistiu percebe que todo o envolvimento entre Theo e Samantha tem um desenrolar um pouco previsível em alguns pontos e deixa visível a complexidade dessa relação - sendo os seres humanos limitados e os Sistemas Operacionais inimaginavelmente vastos.

Antes de finalizar o post, gostaria de comentar sobre a fotografia do filme que me deixou encantada, a trilha sonora incrível e as roupas do Theodore, assim como seus óculos, que ficaram perfeitos e ajudaram a construir a personalidade do personagem. Também vou deixar um vídeo pra vocês assistirem e sentirem um gostinho do que os espera. Espero que gostem:


E vocês, que já assistiram ao filme, quais foram suas impressões?


12 junho 2014

Dezenove

Birthday 19 :)

Hoje eu acordei, levantei da cama, fiquei me olhando no espelho por um tempo e pensei em silêncio: então é assim que a gente se sente com 19 anos?

É. Deve ser.

Depois disso, segui minha rotina normal. Já estou acostumada a ficar em casa nas quintas, visto que não tenho aulas nesse dia, e assim foi. Não teve nada diferente ou extraordinário. Exceto por uma visita da minha mãe ao meu quarto, logo pela manhã, para me dar um abraço de parabéns, e pelas mensagens por sms, facebook, whats, telefonemas, essas coisas, que recebi de amigos, parentes, colegas, conhecidos, enfim. Não fosse por isso, essa quinta-feira seria apenas mais uma. E isso me fez pensar e querer falar sobre algumas coisas. Pra variar.

Há exatos 4 anos, em 2010, eu recém tinha completado 15 anos. Os tão esperados quinze anos, a data mágica para quase todas as meninas, o momento pelo qual eu aguardava ansiosamente. Com 14 anos eu acreditava que ao completar 15 eu chegaria no auge da minha vida. Hoje, aos 19, vejo que ainda não cheguei nem perto disso. O fato é que de 14 para 15 anos eu esperava que as coisas mudassem drasticamente, esperava uma revolução na minha vida – acho que eu assistia a filmes demais. Mas a realidade foi que eu cresci pouco naquele ano. Tecnicamente, aquele "rito de passagem" de menina para mulher era para ter acontecido lá, mas pra mim poucas coisas mudaram de fato. Este ano, passando de 18 para 19, me vejo tão crescida, amadurecida, tão diferente do que eu costumava ser há 4 anos que posso afirmar que, agora sim, eu me tornei uma mulher. Ou que estou bem perto disso.

Agora vejam só vocês. Meu rito de passagem foi aos 19 anos. Dezenove. Dez e nove? Um número tão chinfrim. Nem múltiplo de cinco é. Nem par é. Tão sem graça, tão sem nexo... Mas aí é que está! Não existe uma data, um marco, um número, uma fórmula exata. A gente amadurece aos poucos, sem se dar conta, e quando vê que já não é mais quem costumava ser, leva um baita susto. Como eu levei hoje ao me encarar no espelho.

Durante o dia me peguei pensando em como tudo aconteceu de uns 4 anos para cá. Tanta coisa mudou. Tantas pessoas apareceram, reapareceram, tantas pessoas foram embora, algumas permaneceram, outras nem esquentaram o lugar... Meus pensamentos, minhas prioridades, minhas opiniões, tudo está tão diferente, tão mais estável, mais palpável. Aquela menina do ensino médio, que não tinha muita certeza das coisas, hoje é uma universitária com planos bem concretos pro futuro e já está dando os primeiros passos para realizá-los. Eu mudei, cresci, evolui bastante e posso dizer que estou bem contente com isso. Apesar de não ter esperado ansiosamente pelos 19 anos, digo que eles estão sendo uma grata surpresa, já nas suas primeiras horas.

Enfim. Já é quase meia-noite e o "meu dia" está acabando. Eu não pretendia escrever nada hoje, mas se teve uma coisa que se aflorou em mim com o passar dos anos foi o gosto pela escrita - acho que esse é um dos poucos resquícios do meu eu de anos atrás.

Obrigada a todos que me desejaram felicidades, parabéns, etc. Aproveito para agradecer também, de forma geral, os comentários e dizer que fico imensamente feliz em poder compartilhar minhas experiências e até mesmo o meu amadurecimento com vocês. Então é isso...

Até mais!

09 junho 2014

Lolita



Clique aqui para ouvir a trilha sonora desse post, porque o gênio aqui não conseguiu colocar um player com a música.

Prepara a pipoca e o refrigerante (café, no meu caso), se ajeita na cadeira - ou na cama, porque com esse frio ninguém merece ficar congelando fora das cobertas - e senta que lá vem história!

Comecei a ler o livro "Lolita" esses dias e ele é tão bem escrito, mas TÃO BEM escrito, que seria impossível eu não abrir um mega parênteses pra dizer que eu queria ter, sei lá, 1/3 da capacidade que o Nabokov tem de se expressar, detalhar as cenas e criar personagens tão profundos. Sério. A leitura flui maravilhosamente bem e uma frase aparentemente simples, uma ação rotineira, um mero detalhe nas mãos do escritor vira poesia. Ele escreve de uma forma extremamente rica e isso faz com que você consiga imaginar a cena na sua cabeça - e no filme dá pra tirar a prova, pois foram pouquíssimos os detalhes que diferiram entre a obra escrita e o filme de 62, dirigido pelo Kubrick. Mas como ainda não terminei de ler o livro (só dei uma espiadinha nas últimas páginas de leve), vou comentar minhas impressões exclusivamente sobre o filme, fazendo eventuais comparações.

Ainda antes de começar, gostaria de dizer que: sim, o filme é todo em preto e branco. Sim, a qualidade da imagem não é das melhores, assim como o áudio. E, sim, ele poderia muito bem ser um filme pro qual você torceria seu narizinho se estivesse passando no Telecine Cult. Mas peço, por favor, que não deixe esses detalhes lhe impedirem dar uma chance à obra. Vale até recorrer ao mais recente, de 97, mas não deixe de fazê-lo. Ok? Ok.

Agora, sim, podemos ir para a análise. 

A obra é narrada em primeira pessoa - tanto no livro quanto no filme - pelo professor de literatura francesa Humbert Humbert e isso é um ponto que eu não poderia deixar de comentar. Tendo em vista sua sanidade mental questionável, não confio totalmente nos fatos expostos. Ele pode ter alterado uma coisinha aqui e ali a respeito das atitudes de Lolita, exagerado em seu comportamento "nymphet", mas mesmo assim basearei minha tese levando em conta a veracidade dos fatos expostos por ele. 

Dolores Haze, Lo, Lola ou simplesmente Lolita, é uma garota de 12 anos, o pai já falecido, que mora com sua mãe, Charlotte Haze. Elas aparecem na narrativa quando Humbert precisa alugar um quarto para ficar e acaba chegando à casa delas seguindo indicações. O nosso querido professor não se vê inclinado a ficar na "pousada", visto que a mamãe Haze é espalhafatosa, chata, fala demais e [insira defeitos aqui], mas ao conhecer o jardim da casa ele decide, rapidamente, que encontrou seu lugar. Assim, sem motivo aparente...


Eu disse jardim? Sem motivo aparente? Ah, claro. Quase me esqueço de mencionar o detalhe da foto acima. Na sua visita ao jardim, Humbert se depara com essa cena. E a mamãe Haze ainda pergunta qual o fator decisivo para que ele optasse por ficar hospedado ali. Pobre mulher. Será que ela não se deu conta que as belíssimas flores da primavera encantaram o professor?

O fato é que, como mencionei lá em cima, Humbert pode muito bem ter manipulado os fatos, mas que Lolita era uma menina com a sexualidade aflorada, ah, isso não se pode negar - principalmente em suas atitudes no filme. Aliás, ela também era bem espertinha, irônica, mimada e egocêntrica, além de engraçada demais. Os diálogos entre ela e a mãe são impagáveis. Porém, se ela fosse minha filha, deixo claro pra vocês, não haveria "Lei da Palmada" que me impediria de dar uma boa surra na garota (faltou chinelo pegando, hein, dona Haze?). Em todo caso, como não sou personagem do Nabokov mas sim Charlotte, inteligente como era (só que não), boa mãe e tudo o mais (só que não, só que não), resolveu que a melhor saída para lidar com a (lê-se: se livrar da) filha rebelde era nada mais nada menos do que, tchanãnãnanã, suspense no ar, enviá-la para um acampamento só para meninas e, depois disso, matriculá-la em um colégio interno para ficar lá tipo, sei lá, o resto da vida. Que amor de mãe, né gente? 

Mas tudo bem, prossigamos. Charlotte se declara para Humbert através de uma carta, meio que desejando que ele fique, meio que expulsando ele da pensão, pois não dava mais para viver-com-ele-sem-possuí-lo. Ele ri sadicamente da carta, mas não vai embora, pois está apaixonado demais por Lolita para deixá-la (de boas, né? Falo isso como se fosse a coisa mais normal do mundo, enfim, é grotesco). Sentindo a obrigação lhe puxar pelo calcanhar, Humbert toma postura e decide ficar - com Charlotte, por Lolita. Eles se casam e, logo após, em um fatídico acidente a mais nova Sra. Humbert acaba morrendo, poupando nosso protagonista de sujar suas lindas mãozinhas em um homicídio (sim, ele estava planejando o crime perfeito que não saia de sua mente doentia). Enquanto isso Lolita estava no acampamento. Após os acontecimentos, "Papai" Humbert vai correndo buscar a menina e decide partir em uma série de viagens, só os dois, sem contar para ela que agora ela era órfã de pai e de mãe. Um mero detalhe, não é mesmo? Quem não esqueceria de mencionar?

Tá bom, Lolita, eu prometo. Mas e você, seu pequeno diabo, promete também?
Lá para as tantas, ele acaba se vendo obrigado a desmentir que Charlotte estava no hospital e a menina Lolita cai em prantos. A mãe era odiosa, insegura, irritante, desequilibrada, mas ainda assim era sua mãe. Lo pede que Humbert não a abandone, pois era melhor ficar com ele do que ir para um abrigo para crianças órfãs - palavras da própria - e nosso protagonista acredita estar vivendo um sonho, afinal, aquela era a declaração de amor que ele sempre quis ouvir. Sabe de nada, inocente.

Já me estendi demais, mas realmente fiquei empolgada com o filme e seus personagens. São, como eu já disse, tão profundos que parece que pulam da tela pra conversar com você. 

Professor Humbert Humbert é um cara inteligente, com uma voz cordial e até seria um partidão se não fosse completamente maluco e repulsivo. Confesso que eu gostaria que ele lesse pra mim (com seus comentários, pfvr) um poema de Edgar Allan Poe, assim como ele fez para Lo, se eu não soubesse que ele é um sádico do pior tipo.

E a trilha sonora, gente? E as roupas, os cenários, tudo, em si, que me fizeram sentir, de fato, nos anos 60? Quase peguei um vestido rodado e saí por aí dançando (não), porque essa época foi muito amor (sim). Por isso recomendo assistirem a essa versão do filme, o preto e branco vira charme e nas quase 3 horas de filme seus olhos não desejam ver outra coisa se não o que irá acontecer com os personagens.

Eu fiz minha parte, comentei detalhes com vocês e passei minhas impressões, mas pra conhecer melhor os outros personagens, a trama em si e tal, você PRECISA ir correndo assistir ao filme e ler o livro. É impossível resumir em uma mera análise todas as sensações que a obra transmite. É uma história polêmica, sim, mas tem toques de bom humor, ironia, sadismo, basta que você vá assisti-la de mente e coração abertos. 

Ah, quase ia me esquecendo...

Eu disse que parece que os personagens são tão reais que parecem pular da tela pra conversar com você, né? Numa dessas saídas a Lolita veio falar comigo e deixou um recadinho pra você, especialmente você, que passa no blog e não comenta:



Brincs,
Lolita te despreza.

06 junho 2014

Divagações sobre "American Psycho".


Esse texto contém spoilers!

Assisti ao filme “Psicopata Americano” ontem e ainda estou tentando digerir a história.

Como de costume, assim que terminei de assistir à obra (3 da manhã), fiquei olhando pra tela do computador com cara de boba e pensando sobre o que eu tinha acabado de ver, ruminando os detalhes e essas coisas. Depois disso, fui procurar opiniões a respeito do filme e ver com quais delas meu ponto de vista se encaixava. O fato é que todas as “resenhas” e análises que li falavam basicamente sobre a mesma coisa: a presença da crítica sobre o consumismo exacerbado e individualismo, além da ótima atuação de Bale e que DiCaprio tinha desistido do papel. E só. Isso não me bastou e as questões a respeito do filme em minha mente só faziam crescer.


Já eram quase 4 da manhã quando me peguei pensando que todos os personagens (os amigos do Patrick, o policial, exceto sua secretária) poderiam muito bem ser fruto da sua imaginação. Por que não? O cara era um psicopata, no final das contas. Poderia criar todos aqueles “amigos” a partir de pequenos fragmentos de sua própria pessoa e isso justificaria o fato de todos eles serem muito parecidos, usarem as mesmas grifes e apresentarem o cartão de “vice-presidente”. O policial, no entanto, poderia representar seu grito interno de socorro, o único fio que o segurava à sanidade que se esvaia, um resquício de ordem/lei dentro da conturbação interior que o sufocava. Porque como seria possível ele (o policial) sacar o exato CD que era o mesmo que Patrick deixara tocando enquanto matava Paul? Quanto à secretária, acredito que ela pode ter existido de verdade na obra, pois era uma personagem “diferente”. Não fazia parte daquele mundinho fútil e de competições. Li algumas críticas insinuando que ele não a matou por esse motivo, mas na cena em que ele iria cometer o homicídio, seu telefone toca repentinamente e ele fica visivelmente atordoado. Acredito que nesse momento ele “despertou” de uma espécie de transe e se deu conta de que aquilo não acabaria bem, tanto que permitiu que ela fugisse.


E os crimes que ele cometeu? Teriam sido de verdade? Pois na cena em que ele sai arrastando seu colega Paul (que acabou de levar machadadas até a morte) enrolado em um saco de dormir, o rastro de sangue o persegue por um tempo e depois simplesmente some. Misteriosamente. Teria sido um outro transe? Apenas a imaginação de protagonista realizando seus desejos mais profundos figurativamente? Aliás, ainda enquanto colocava o corpo no porta-malas de um táxi, um outro “colega de trabalho” aparece e a única pergunta que ele faz é sobre o saco de dormir. Aí entro em dúvida: a indiferença por parte dos personagens “secundários” seria a representação de egoísmo, futilidade? Ou teriam eles sido fruto da imaginação doentia de Patrick?

De forma geral, eu costumo gostar de psicopatas e caras maníacos (na ficção, que fique claro). Exemplos: estou lendo “Lolita” e Humbert Humbert roubou meu coração com a forma como ele sabe escolher perfeitamente as palavras que usar e suas descrições impecáveis. Dr. Lecter dispensa comentários. Jack, d’O Iluminado (se encaixa aqui?) é encantadoramente assustador. Mas Patrick não conseguiu me conquistar. Apesar dos rituais de beleza que me fizeram ficar hipnotizada por minutos a fio, os banhos (!!), as séries de exercícios e o seu charme, eu achei-o descontrolado por vezes e psicopatas inseguros não fazem o meu tipo.

momentos

Terminei essa "análise" com mais dúvidas do que tinha e poucas respostas, mas de forma geral filmes assim é que vale a pena serem assistidos: aquelem que explodem o seu cérebro (sdds Clube da Luta) e te deixam com ressaca cultural. 

E vocês, já assistiram? Comentem aí! 

01 junho 2014

"Everything's a copy of a copy of a copy..."


Peço licença poética pra usar a frase-título do post e esse gif de Clube d* **** em um contexto totalmente diferente do que eles foram inseridos no filme e no livro. Acontece que eu não conseguia pensar em nada que descrevesse melhor o assunto que eu vou tratar nesse texto, então vamos lá.

Dia desses eu estava conversando com uma colega sobre relacionamentos. Minto. Eu estava ouvindo as lamentações dela, choramingando porque o affair da vez era do tipo "não caga, mas não desocupa a moita" - os dois se gostam, ele não quer perder ela, mas não quer assumir um relacionamento sério. E isso me fez pensar um tanto até que parei de colocar panos quentes sobre a situação e mandei a real pra ela: segue o lema da OLX - e da Isabela Freitas também, desapega! Cai fora. Não que ela tenha o seguido o conselho, mas a minha parte eu fiz. Porque se a gente for parar pra analisar, não precisa ser nenhum Freud pra perceber que as relações, as pessoas, em si, são a cópia, da cópia, da cópia... Como num ciclo vicioso, relacionamentos começam e terminam todos os dias pelos menos motivos. Sempre. E as pessoas parecem não se dar conta disso.

Até porque relacionamentos são simples em sua essência, o complicado são as pessoas. Infelizmente, os relacionamentos são feitos de pessoas e é isso que ferra tudo. É claro que não dá pra generalizar, de forma alguma, inclusive acredito naquela teoria de que o meio em que vivem muda as pessoas, mas acredito também que se você pegar umas três experiências amorosas aleatórias - sejam suas ou de terceiros - todas elas terão os mesmos ingredientes e, possivelmente, os mesmos motivos pelos quais não deram certo. As pessoas mudam de nome, de endereço e de aparência de uma pra outra, mas o que não muda são as questões internas e a forma como se relacionam com os outros. 

Onde eu quero chegar com tudo isso? Bom, talvez você já tenha se deparado com alguma situação em que pensou "puts, parece que eu já vi esse filme antes", certo? Quer saber uma coisa? É bem possível que, de fato, você já tenha visto mesmo ou até mesmo vivido aquilo de forma indireta. E o que eu não entendo é como, sabendo de tudo isso, a gente ainda insiste em quebrar a cara. Errando de novo, e de novo, e de novo. Como uma eterna cópia da cópia...

Agora sou obrigada a jogar as cartas na mesa: a gente se fode porque quer. A gente insiste numa relação sem futuro porque quer. A gente não muda e persiste no erro porque quer. Porque nós sabemos, no fundo, que as pessoas são todas iguais e, mais ainda, sabemos que geralmente elas não valem à pena. Não me chamem de pessimista, porque é a mais pura verdade. Pouquíssimas são as pessoas que nos acrescentam alguma coisa. Mas como já dizia Bukowski, "o problema é que tenho que continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar esse computador, se eu quiser dar a descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles mesmos me causem horror." E não é isso mesmo? Ainda que sem querer a gente precisa se relacionar com as pessoas, não dá pra evitar. Mas em se tratando de relacionamentos a história muda. Amorosamente a gente se envolve com quem quer. E a gente deveria usar esse livre arbítrio de forma mais consciente e escolher a pessoa certa, só pra variar. 

Você já deve estar dando uns tremeliques aí na sua cadeira e pensando "ela tá ficando louca, só pode, como é que eu vou escolher de quem eu gosto? Eu não mando no meu coração!" e eu nem vou discordar porque isso é bem verdade (não a parte que tô ficando louca, ah, vocês entenderam). Mas a questão não é escolher por quem se apaixonar, sim escolher com quem se relacionar

Voltando ao causo que citei no início do texto, minha colega sabe exatamente que essa relação não vai dar em nada, mas mesmo assim continua insistindo (lembrando que ela tem histórico de desilusões amorosas nesse sentido, já deveria estar expert em prever quando um relacionamento não tem futuro, enfim). E eu nem vou ser aquela pentelha que, quando tudo dá errado fala "eu avisei...", juro, mas... Que eu avisei ninguém pode negar. Então acho que todo esse texto pode se resumir nisso: tenha um mínimo de bom senso antes de escolher com quem se relacionar. Conheça bem a pessoa e já no primeiro mau sinal, caia fora. Assim mesmo, sem olhar pra trás. Escolha bem, seja crítica e racional. Isso evitará muitas desilusões e o chororô posterior. 

Seguindo esses conselhos, você pode muito bem passar a vida sem encontrar ninguém com quem queira se relacionar, já que você vai estar refinando melhor as pessoas e a maioria delas simplesmente não vale à pena. Mas quando você finalmente encontrar alguém e perceber que sim, tem futuro, que vocês acrescentam algo um ao outro e que as borboletas no estômago são correspondidas, tudo passará a fazer mais sentido. 

Outro aspecto que vale ressaltar é: aprenda com seus erros. Os relacionamentos são cópias de cópias (sim, vou bater nessa tecla até o fim), então use antigas decepções para aperfeiçoar futuras relações. Porque, como eu já disse, a gente se fode e insiste no erro porque quer, então vamos nos conscientizar, né?

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Eu tento fazer um texto reflexivo e acabo caindo sempre no tom de auto-ajuda, mas esse é um assunto que eu vinha pensando bastante a respeito e acredito que é algo tão simples, mas que demoramos muito pra perceber. E essa demora nos custa tempo, empenho e energia que poderia ser gasta com tantas coisas mais úteis, como ler os meus textos e tal. Enfim. Reflitam sobre isso e venham me contar suas conclusões nos comentários.

Até!