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28 julho 2014

Desbravando o mundo de Wes Anderson

O Grande Hotel Budapeste
Eu costumo escolher os filmes que vou assistir pelo título - quando eles ainda não estão na minha lista de "quero ver" ou não são indicações de amigos. Gosto de confiar na criatividade do nome porque, convenhamos, as sinopses que teoricamente existem para atiçar nossa curiosidade com um pequeno resumo da obra nunca cumprem bem o seu papel. Levando em conta que toda experiência, boa ou ruim, é proveitosa, me permito correr o risco de "perder" 2 horinhas com um filme ruim do que deixar de assistir a um bom por causa da sinopse horrível. E foi seguindo essa linha de escolha que resolvi assistir ao filme de título imponente que todos estavam comentando: "O Grande Hotel Budapeste". Devo dizer que não me decepcionei nem um pouco com ele, gostei do enredo tanto quanto gostei do título. Foram minutos bem proveitosos e a partir desse filme Wes Anderson ganhou mais uma fã: euzinha.

Moonrise Kingdom
Vocês provavelmente já devem ter ouvido falar sobre ele (Wes) e principalmente sobre suas características marcantes de direção. Se ainda não tiveram a oportunidade de apreciar nenhuma de suas obras de arte, adianto alguns itens que vão encontrar em todas elas: perfeita simetria nas cenas, objetos posicionados estrategicamente (cada coisa em seu lugar), cores vivas (muito vermelho, amarelo, laranja), câmera parada com apenas os atores se movimentando, trilhas sonoras impecáveis, uma pitada de fábula e elementos surreais, repetição de atores (Bill Murray e Owen Wilson que o digam), câmera lenta em um momento pontual pra intensificar a emoção dos personagens, enfim, detalhes facilmente perceptíveis em todas as suas obras. 

Os Excêntricos Tenenbaums
Algumas pessoas acham cansativa essa repetição assim como acham os filmes do Woody Allen chatos por serem sempre mais do mesmo, mas acredito que nos dois casos são as repetições que constituem a identidade artística dos diretores e aí é que está a graça. Seja no caso de Allen, que escolheu interpretar o mesmo personagem em todas as suas obras com a ironia e o humor que só ele é capaz de transmitir ou no caso do Wes, que coloca todas as suas histórias no mesmo padrão, não somente agradável aos olhos, mas com um conteúdo espetacular.

Hotel Chevalier
Não sou crítica de cinema nem nada, mas adoro indicar pra vocês obras e diretores que eu gosto, então depois de assistir a mais alguns filmes do Wes eu resolvi que era hora de apresentá-lo pra vocês. Estou me sentindo a filha que vai apresentar o namorado para os pais, relevem. O caso é que eu gostaria de morar dentro de um filme dele, porque, gente, muito amor! ♥

Os Excêntricos Tenenbaums
Os filmes que eu assisti e indico são: O Grande Hotel Budapeste, Os Excêntricos Tenenbaums, Hotel Chevalier (que é um curta que precede Viagem a Darjeeling) e Moonrise Kingdom. 

Pra finalizar, encontrei alguns vídeos de compilações de cenas mostrando as características marcantes que eu falei lá em cima e vou deixar os links pra vocês assistirem, caso interesse:


22 julho 2014

Filmes sobre a idealização do amor perfeito


Eu costumo falar aqui sobre os filmes que eu assisto na esperança de que vocês encontrem nas minhas indicações algo de útil para assistir e levar para a vida. Embora não seja muito de fazer sinopses ou análises, eu gosto de pegar um tema abordado em algum filme e falar sobre ele, fazendo relações com a obra, com vida real e com as minhas opiniões. Mas hoje, buscando fugir um pouco desse padrão, eu resolvi trazer três indicações de obras que abordam um tema que eu acho muito interessante: a idealização da pessoa perfeita, do amor ideal e é isso que Lars and the Real Girl (A Garota Ideal), Ruby Sparks (A Namorada Perfeita) e Her (Ela) têm em comum.

Cada qual à sua maneira, os filmes mostram sobre como é se apaixonar por alguém que nós idealizamos, alguém que, à princípio, é tudo o que nós achamos que precisamos. Um ponto em comum em todas as tramas citadas é que os protagonistas percebem que mesmo quando encontram a pessoa que julgam ideal, as coisas não são tão perfeitas quanto eles imaginavam que seriam. Porque o amor é assim. Por mais que nós tenhamos nossas ideias pré-estabelecidas do que nós queremos encontrar numa pessoa, suas qualidades, nós percebemos que muitas vezes seus defeitos é que são apaixonantes e nos completam. 

· Lars and the Real Girl ·


· Resumo: Lars é introspectivo, não consegue se relacionar com as pessoas ao seu redor e resolve encomendar uma boneca de plástico que pode ser fabricada exatamente aos moldes do que ele considera ideal para lhe fazer companhia. Com a chegada de Bianca, o homem cria toda uma história para ela, uma personalidade, passando a acreditar que ela realmente tem vida. Seguindo a orientação da médica da cidade, todos entram na alucinação do protagonista e passam a tratar Bianca como se ela fosse mesmo real. Apesar de ser um drama, chega a ser engraçada a forma como Lars se relaciona com a boneca. 

· Destaque para: a atuação fenomenal de Ryan Gosling e a Bianca segurando o menino no colo, cena impagável.

· Ruby Sparks ·


· Resumo: Calvin é um escritor que está passando por uma fase de bloqueio criativo. Assim como Lars e Theodore, ele também é muito solitário e sente dificuldade em se relacionar com as pessoas. Seguindo a orientação do seu terapeuta, ele escreve sobre como seria a mulher ideal para ele e Ruby magicamente aparece, exatamente da forma que Calvin imaginou. O filme me surpreendeu positivamente pelo conteúdo abordado de forma tão profunda, mas o final clichê deixou um pouco a desejar. Ainda assim vale a pena ser assistido.

· Destaque para: a química entre o casal de protagonistas e para as armações arredondadas dos óculos do Calvin.

· Her ·


· Resumo: O tema principal do filme é outro (e eu já falei sobre ele aqui), mas a dificuldade do Theodore em se relacionar com as pessoas e a forma como Samanta passa a ser a idealização de mulher perfeita para ele - apesar de ser apenas um OS - passa a mensagem sobre o amor e suas idealizações. Assim como os protagonistas dos filmes anteriores, Theodore não consegue viver um romance real, mas a lição que fica das obras é que nós não podemos simplesmente idealizar alguém e esperar encontrar uma pessoa exatamente naqueles padrões, pois mesmo que por um milagre da natureza aparecesse alguém que julgamos "perfeitos" para nós, teríamos problemas, discussões, essas coisas, pois tudo isso faz parte de um relacionamento saudável. Afinal, estamos falando de duas pessoas diferentes, mas que diante dos atritos elas devem aprender a se moldar - um ao outro - de forma que ambos cresçam e se beneficiem juntos.

· Destaque para: Scarlett Johansson que consegue ser magnífica mesmo usando apenas a voz e para os óculos, o bigode e todo o figurino do Theo (qual é o meu problema com óculos de armações arredondadas?).

Bom, gente, acho que é isso. Talvez eu só tenha gostado tanto desses filmes que eu precisava indicá-los, mas acho realmente esse tema válido de ser refletido.

21 julho 2014

Sobre a arte de fazer café


Eu sempre morei perto da minha avó materna. Nossa convivência sempre foi diária e se tem uma coisa que eu sempre gostei nela, além das nossas conversas intermináveis e uma série de outras coisas, é do café que ela faz. Eu, que sou extremamente chata no quesito "considerar um café bom", acredito que a perfeição líquida sempre fora preparada por aquelas mãos enrugadas. Vocês que não gostam da bebida provavelmente não entendem, mas sabe quando você é atraído pelo aroma, ao longe, e vai caminhando até encontrar a fonte, serve uma xícara, dá o primeiro gole, vai ao céu e volta? Era mais ou menos assim que eu sentia ao tomar o café da minha vó. 

Durante muito tempo eu tentei descobrir o segredo dela. Quantas colheres de café ela colocava, quantas colheres de açúcar, quantos mls de água, essas coisas... Eu precisava desesperadamente daquela fórmula. Até que um dia ela me explicou exatamente como ela fazia, as medidas, etc, e meu café subiu do nível "horrível" para "tomável" o que, pra mim, foi uma baita evolução e por hora eu estava satisfeita.

Certa vez minha avó ficou de cama e quem tomou o posto de fazer café foi a minha mãe. Numa escala hierárquica, minha avó estava no topo, com o melhor café do mundo da casa, eu estava na base e minha mãe era o intermédio - seu café nem era tão bom, nem tão ruim. Até que eu decidi que não poderia viver dependente do café dos outros e fui atrás da minha própria fórmula do café ideal. 

Minha saga demorou algum tempo, mas eu finalmente descobri. Minha mãe tinha um medidor de pó de café que veio junto com a cafeteira e eu passei a usar três medidas daquela. Três colheres grandes cheias de açúcar. Um bule cheio de água - o que, na cafeteira, equivale a 40 cafés e daí é só apertar o botão e esperar a felicidade líquida aparecer. 

Os defensores do café passado na hora com água fervente, etc, que me poupem. Já fui uma de vocês. Mas me senti na obrigação de me render aos aparelhos domésticos e o advento da cafeteira veio bem a calhar. Hoje digo, sem falsa modéstia, que o aprendiz superou o mestre. Em outras palavras: há algum tempo minha avó veio me perguntar qual era a fórmula que eu tinha desenvolvido para fazer o que agora é chamado de "melhor café da casa". Sintam o drama.

Parando pra pensar, acredito que esse lance todo de apreciar e fazer um bom café seja um dom que corre em minhas veias, passado pra mim pela minha avó. Talvez eu seja a sua sucessora. Ou talvez isso seja uma incrível coincidência, vai saber. Mas já tentei fazer o meu café usando a velha chaleira, bule e coador e deu certo, portanto, me sinto no direito de aceitar o título que me foi conferido. Aliás, vou encerrar o post com uma frase que eu costumo dizer pras pessoas que me falam que não gostam de café: você não gosta? tudo bem, mas... você já provou o meu café? 

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*A inspiração para esse texto surgiu enquanto eu comentava sobre o eterno caso do café gelado da Duda.

20 julho 2014

(+ que) só mais uma comédia romântica

You too, Joseph 
Eu queria um filme leve pra assistir nesse final de semana e acabei me deparando com Don Jon, cujo título foi traduzido horrivelmente para "Como Não Perder Essa Mulher", passando uma imagem completamente diferente do que realmente se trata a obra. Apesar de não ter gostado muito da premissa, eu só estava querendo descansar a mente e resolvi assisti-lo por motivos de: Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson e Juliane Moore.

Já adianto pra vocês que o filme não chega nem perto de merecer 5 estrelas, mas também não é aquela comédia romântica bobinha que estamos acostumados a ver por aí. A personagem da Scarlett, Barbara, é terrivelmente chata e nos apresenta, à primeira vista, uma visão "idealizada" da mulher perfeita: é bonita, bem vestida, tem uma carreira, dinheiro, dentre outras características, e é "viciada" em romances cinematográficos de tirar o fôlego. Jon, interpretado lindamente pelo amor da minha vida, é viciado em pornografia, frequenta a academia, cuida do corpo, costuma avaliar as mulheres que ele pega na balada seguindo uma pontuação de 1 a 10 e não se apega a ninguém. Acredito que aqui esteja a maior crítica do filme, mostrando de forma escrachada esses conceitos pré-estabelecidos dos gêneros feminino e masculino, principalmente instigando que pornografia é "coisa de homem" e filme romântico "coisa de mulher" - inserindo como contraste a personagem da Juliane Moore, Esther, que é mais velha, fuma e admite que assiste pornografia, quebrando toda a imagem de mulher idealizada.

Quanto ao enredo, preciso dizer que fiquei me contorcendo no sofá, louca pra que a Barbara sumisse logo da tela. Ela fica fazendo jogo duro, não quer ir para a cama com o Jon até ele a apresentar para os amigos, família, etc, não por ela não estar com vontade de transar com ele (ou por não querer que ele tenha uma "ideia errada" dela), mas porque ela simplesmente quer engatar um namoro e usa isso como trunfo. Tudo bem, cada um tem sua opção, dá quem quer. A questão é que ela força mesmo a barra, começa a impor condições e o bobinho do Jon (homens e suas cabeças de baixo pensantes) começa a ceder porque, Deus, aquela é uma mulher número 10 na sua escala e ele precisa dela, só dela. Ele até diz que a Barbara é a coisa mais bonita que ele já viu na vida, repetindo a frase em momentos pontuais do filme, nos mostrando a futilidade dela e de sua representação. Ela é linda, sim, isso é inegável, mas o que mais ela tem a oferecer?

Jon começa a fazer uma matéria na faculdade porque ele é barman e a namorada quer que ele trabalhe de terno e gravata. Ela o obriga a parar de assistir pornografia, não quer mais que ele limpe o próprio apartamento - que ele faz por gosto, diga-se de passagem - e uma série de outras coisas. Eles começam a namorar, ela é apresentada aos pais, aos amigos, eles finalmente vão para a cama e tal, mas toda essa relação, desde o começo, é totalmente unilateral. Barbara acredita que a maior prova de amor de um homem é mudar, por ela, tudo o que ela acha que está errado, mas não enxerga que a própria também tem vários defeitos - que agora começam a aparecer - e que também precisa mudar, porque, diabos, isso é uma relação! Precisa haver troca, mutualidade, crescimento, enfim...

Bem, o filme cumpre muito bem o papel de satirizar e brincar com esses tipos de homens e mulheres que nos são enfiados goela a baixo como ideais, padrões, nos mostrando como uma mulher nota 10 pode ser incrivelmente chata e como as relações não devem se basear em uma troca unilateral de conhecimento, amadurecimento, essas coisas. Além disso, fala sobre entrega pessoal, sobre se descobrir dentro de um relacionamento e perceber que muitos dos nossos vícios são reflexos de problemas do nosso interior, cabendo a nós descobri-los e resolvê-los. 

Por fim, eu recomendo a obra pra quem, assim como eu, estava procurando algo leve e descontraído, mas já aviso que tem algumas cenas bem constrangedoras - o Jon é viciado MESMO em pornografia. Em compensação, também tem umas bem bonitinhas. Vale à pena assistir. 

Nunca chegarão aos pés de Clarice e Dr. Lecter, mas tá valendo. 

19 julho 2014

Sobre conselhos e abraços


Na última madrugada de segunda para terça eu estava acompanhada de uma amiga que tinha vindo até minha casa conversar, pedir conselhos, desabafar, enfim, essas coisas que amigas fazem. Lá pras tantas, eu, que já tinha dado todos os conselhos possíveis e impossíveis pra ela, resolvi ligar a tv pra dar uma descontraída no clima. Estava passando o programa do Danilo Gentili e eu tive a feliz surpresa em ver que Carpinejar era o entrevistado da noite. Fiquei dividindo meu foco entre a tv e a minha amiga até que um diálogo me roubou toda a atenção: "eu vejo que você dá conselhos, palpites sentimentais com muita segurança, até fala sobre o assunto com muita segurança, eu posso supor que sua vida sentimental é bem tranquila?" perguntou o apresentador. "Não! Não, como que eu ia dar conselhos se eu não sofro dilemas, tormentos, abismos, infernos...?" rebateu o entrevistado.

Eu entendi o que o Danilo quis dizer. Ele partiu do pressuposto que Carpinejar, por ter tantos conselhos pra dar sobre relacionamentos, deveria usá-los em benefício próprio, tendo assim relações tranquilas. O entrevistador presumiu que ele já tinha todas as respostas para as próprias perguntas. Mas teve um ponto que o que o humorista esqueceu de considerar: para sabermos muito sobre um assunto, qualquer que seja, não precisamos ter todas as respostas; temos que ter todas as perguntas e, a partir disso, ir em busca das soluções. 

A entrevista acabou e minha amiga saiu daqui munida de conselhos que provavelmente não usará, assim como aquela colega que aparece no post em que eu digo que relacionamentos são a cópia da cópia, reforçando a minha teoria, pois os dois casos são parecidíssimos. E isso me fez pensar sobre outra coisa. Talvez as pessoas não venham até nós pedindo conselhos para recebê-los e segui-los, de fato. Elas querem ter a sensação de que estão sendo ouvidas, querem saber que tem alguém prestando atenção nos seus dramas e alguém que se importa o suficiente para despejar algumas palavras em forma de ajuda. Buscam conforto nas palavras amigas que, vindas em forma de conselhos, implicam numa espécie de abraço, como se a pessoa dissesse "vem cá, eu também já passei por isso". Talvez os conselhos sejam apenas a metáfora para dizer que nos importamos. Símbolos que não precisam ser necessariamente seguidos para fazerem sentido.

A questão é que os conselhos, seguidos ou não, são pequenos resumos de todos os nossos aprendizados. Especialmente no caso de relacionamentos em que as situações sempre se repetem. Nós precisamos passar por perrengues, encontrar saídas, sentir na pele o que é ser largado ou largar alguém pra poder comentar sobre o assunto. Nós precisamos de nossas próprias experiências para poder aconselhar a melhor forma de lidar com aquilo - seja usando a mesma saída que nós usamos, caso tenha dado certo, ou uma alternativa mais eficaz. E acho que poder aconselhar alguém, por mais que a pessoa faça tudo ao contrário do que você indicou, já é uma forma de ajudar o outro e também si próprio, por que não? Assim como o nosso sistema imunológico tem seus anticorpos de memória - que registram e guardam a informação de como o organismo reagiu a determinado patógeno para reagir da mesma forma caso ele volte a aparecer - nós temos nosso inconsciente recheado de conselhos. Ainda que inconscientemente, nós nos aconselhamos o tempo todo e receber conselhos de terceiros é sempre uma espécie de abraço. Mas para isso nós precisamos sempre de novos problemas, novas perguntas, para encontrar mais memórias e mais abraços, porque, no final das contas, são as perguntas que nos movem - não as respostas.

15 julho 2014

Diretores e patos


Esses dias eu brinquei com uma amiga que numa vida passada eu devo ter sido um homem bem cafajeste que fez muita merda e brincou muito com os sentimentos alheios porque só isso explicaria o fato de eu estar "pagando" até hoje. Mas daí eu fiquei pensando sobre ser homem, fazer merdas, brincar com os sentimentos alheios... E meio que é isso que os homens fazem, não? Alguns sem querer, outros querendo, mas no final das contas eles sempre batem a poeira das botas, partem pra outra e o lado feminino da relação acaba sofrendo. Porque é isso que as mulheres fazem. Sofrem. Generalizando, é claro... 

Então que ontem eu assisti "Submarine" (2010) e tentei não chorar. Porque eu estava com a sensação de que estava amadurecendo nesse sentido (não chorar assistindo a qualquer filme, guardando minhas lágrimas para algum que me emocionasse de verdade). Mas daí eu lembrei que horas antes eu tinha chorado assistindo a um casamento na novela (sim, me julguem) e olhando pro Oliver e pra Jordana e pro amor bonitinho dos dois eu deixei as lágrimas rolarem. E fiquei pensando sobre como seria bom ser mais "evoluída emocionalmente", não me apegar tanto a personagens da ficção - e da vida real. Pensei sobre o que eu teria que fazer para não sentir mais a vida com tamanha intensidade - porque isso é uma merda. Mesmo você ficando feliz pra caralho às vezes, você fica triste pra caralho também e todos sabemos que chorar demais faz você ficar com rugas. Mas não é isso que as mulheres fazem, ainda que inconscientemente? Ficar feliz pra caralho e triste pra caralho e chorar e se preocupar com rugas. E se preocupar com tudo. Com cada detalhe, com cada frase dita que pode ter milhares de significados ou não. Porque as mulheres são essa avalanche de sentimentos. Nós somos programadas pra isso, ao contrário dos homens.

Pensando sobre o jeitinho de ser característico dos homens e das mulheres lembrei do livro "Extraordinário" que ganhei de aniversário de um leitor do blog que virou meu amigo e li-o em 2 horas. O livro traz tantas questões, tantos pensamentos, tantas entrelinhas que tem um trecho quase irônico. A passagem é a seguinte: August tem 10 anos e tem uma deformidade facial que faz com que ele sofra bullying. Esse é o seu primeiro ano na escola e em determinado momento todos da sua classe têm que fazer um auto-retrato em forma de animal. Qual animal eles acham que se parecem? E August se retrata como um pato. O diretor da escola liga aquela atitude diretamente à história do patinho feio que vira cisne, mas quando questiona a August o motivo de ele se enxergar como um pato o menino diz que se acha parecido com um. Fisicamente. Não que ele ache que vá virar um cisne como na história. E o diretor começa a rir e solta a frase "às vezes um pato é só um pato". E é isso. A mulher é o Sr. Buzanfa que tenta encontrar um significado por trás do que o menino desenhou e o homem é o August que se desenha como pato porque se acha parecido com um. E taí o diretor, a figura masculina, pra nos mostrar que existem, sim, algumas exceções à regra.

Quando eu li esse trecho do livro, há alguns dias, eu percebi tudo se resumia a isso. Às vezes um pato é só um pato, realmente. Principalmente se você está conversando com um homem, salvo raríssimas exceções, ele dirá exatamente o que quer, o que pensa, e tentar encontrar simbologismos e metáforas é furada. Porque homens são assim, são práticos. Mas em contrapartida eu sei que mesmo sabendo de tudo isso nós somos mulheres e nossa natureza é tentar desvendar até aquilo que não precisa ser desvendado. Então eles vão continuar falando exatamente o que querem dizer e nós vamos continuar tentando encontrar significados ocultos atrás disso. É a natureza seguindo seu curso.

06 julho 2014

Perfeita Assimetria


Engenheiros do Hawaii é uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos e foi impossível não lembrar de uma frase cantada por eles assim que terminei de assistir "Hysteria" (2011): "o teu maior defeito talvez seja a perfeição", retirada da música a qual faço alusão no título desse post "Perfeita Simetria" - e que vale a pena ser ouvida, diga-se de passagem.

Pra quem ainda não assistiu, o filme é baseado em fatos reais, se passa no século XIX e conta a história da invenção do vibrador - que lá nos primórdios era usado para fins medicinais. Mas a parte específica da obra que interessa pra esse texto é a relação do Dr. Mortimer Granville (interpretado lindamente pelo Hugh Dancy <3) com as filhas do Dr. Robert Dalrymple, seu patrão-futuro-sócio, Emily e Charlotte. As duas irmãs são completamente opostas: enquanto a primeira é uma bela dona de casa, educada, recatada, adora ler e pratica frenologia, a outra mantém um abrigo feat. escola para os menos favorecidos e possui um espírito revolucionário - acredita principalmente que as mulheres merecem mais do que esfregar a barriga no fogão e cuidar da família. Emily é o exemplo da perfeição (claro que ela tem defeitos, mas esconde-os muito bem), enquanto Charlotte foge totalmente ao conceito de "mulher ideal" da época - até porque ela questionava ferozmente esse conceito de "ideal". 

Com um empurrãozinho do possível futuro sogro, Mortimer pede a mão de Emily em casamento e eles chegam até a noivar. Não quero dar spoilers, mas o final é clichê e acaba que o mocinho percebe que Charlotte, apesar dos seus defeitos, seria aquela que poderia fazê-lo feliz e ele resolve abandonar o protótipo de vida perfeita, com Emily e um consultório, para se arriscar na incerteza que seria ter alguém tão volátil e espalhafatosa (num bom sentido) quanto Charlotte ao lado.

O final é lindo, eu fiquei sorrindo feito boba - Charlotte sendo Charlotte até em um pedido de casamento, enfim - mas o que realmente me fez ficar pensando foi: será que Mortimer resolveu se casar com Charlotte apesar dos defeitos dela ou por causa dos defeitos dela?

Voltando um pouquinho ao começo do filme, lembramos que Mortimer é (ou era, pelo menos) um médico que está preocupado com a saúde e o bem estar dos seus pacientes. Ele não quer só fazer o seu trabalho para ganhar dinheiro e reconhecimento. Ele é realmente apaixonado pela medicina, se interessa por pesquisas científicas - ainda que limitadas, como eram na época - e percebe que uma revolução estava prestes a acontecer, embora seus pensamentos fossem considerados extremamente visionários e fantasiosos. Quando ele começa a trabalhar com o Dr. Robert tratando a "histeria" das mulheres da alta sociedade de Londres, ele passa a ganhar seu dinheiro, hospedagem, ter a companhia de uma bela moça, tornando-se acomodado. Mas então Charlotte começa a entrar na sua vida com mais frequência do que deveria e acaba perturbando a sua paz. Para muitos, isso seria algo ruim, mas para Mortimer foi a sacudida que ele precisava para reacender seu espírito revolucionário e sair da inércia em que havia se posto.

Aos olhos da sociedade da época e do próprio pai, Charlotte era uma vergonha. Estava longe de ser uma dama. Mas Mortimer, que também era bem diferente do que a classe médica considerava um "bom médico", viu na garota alguém que trazia-lhe à tona todas as vontades mais inquietantes que ele deixara adormecer para se "encaixar". Os dois tinham pensamentos bem parecidos entre si e que iam contra o que era considerado "normal" na época. Eles eram diferentes, imperfeitos (mais que a maioria, pois ninguém é totalmente perfeito), mas no meio de tanta gente eles se encontraram e se reconheceram. Arrisco dizer que ficaram juntos por causa dos seus defeitos que, de uma forma ou de outra, obrigavam o outro a sair da sua zona de conforto para ir atrás daquilo que realmente fazia seu coração vibrar.

Nem preciso dizer que esses dois formam um casal lindo (para o qual eu torcia desde o início do filme) e que a obra vale a pena ser assistida só por isso. Embora eles tenham sido inventados pela diretora para dar um ar adocicado para a obra, eles são totalmente críveis e o resto do filme todo é muito bem elaborado (saber que foi realmente baseado em fatos reais torna-o ainda mais interessante).

Quanto à Emily, a irmã "perfeita", bem, a gente descobre que ela não é tão perfeita assim... Aliás, como diria Humberto Gessinger, tomo a liberdade de reforçar: o maior defeito talvez seja mesmo a perfeição.

04 julho 2014

Esse é definitivo, juro!


· o termo ·
a·li·e·nar
(latim alieno, -are)
verbo transitivo
1. Transferir para domínio alheio (por venda, troca, doação, etc.).
2. Alucinar.
3. Malquistar.
· algumas explicações ·

Não, você não está tendo alucinações, eu mudei o nome do blog, de novo. Aliás, esse post nem é um pedido de desculpas pelo transtorno porque já parei de tentar me redimir desse defeito - de não conseguir manter um blog com o mesmo nome por muito tempo -, mas me sinto na obrigação de explicar pra vocês o motivo da mudança. 

Depois de publicar meu vídeo pro projeto Document Your Life, resolvi aproveitar o gancho para dar continuidade ao canal no youtube e usá-lo como uma espécie de extensão do blog - porque, vocês sabem, algumas coisas precisam ser ditas, não apenas escritas - e eu fiquei pensando que teria que colocar um nome nele, mas não achava que o (agora) antigo nome do blog fosse combinar. Pensei, pensei, pensei, mas não consegui chegar a nenhuma conclusão. Que nome escolheria? Me perguntei durante algum tempo até que encontrei, num fundo empoeirado da minha mente, esse que já foi o nome de um blog meu há uns dois anos: Palavras Alienadas.

Eu até gostava de "Macabéa Contemporânea", mesmo ele tendo sido escolhido às pressas, assim como eu também gostava de "Olhos de Capitu" - que se não tivesse sido roubado, com certeza eu estaria usando ainda - porém resolvi seguir um padrão (que faz todo o sentido na minha cabeça) e vou fazer do blog novamente o meu Palavras Alienadas, assim como o canal, a página no facebook e meu tumblr. Todos com o mesmo nome. Um padrão. Entendem?

· a poesia por trás do termo ·


Quando eu pensei nesse termo - alienar -, lá em 2012, levei em conta a dualidade de sentimentos que ele passa. Você pode considerá-lo pejorativo num primeiro momento por se lembrar dos "alienados" que são tão criticados por não ouvirem as opiniões alheias e se fecharem numa redoma, acreditando que a sua verdade é absoluta. Mas se você parar para analisar todos os significados e focar naquele grifado, que eu fiz questão de dar um control V do Priberam, no começo desse post, vai perceber que ele pode ser usado de forma boa também - e essa foi a forma que eu escolhi usar.

Agora, o que eu quero dizer com "Palavras Alienadas"? Vocês já devem fazer menção, certo? As palavras são minhas e eu as estou entregando para vocês. Não literalmente (os direitos autorais ainda são meus, ok?), mas inevitavelmente quem lê algo que eu escrevi acaba carregando um pouquinho de mim e das minhas ideias consigo, e é isso que eu quero: tocar as pessoas de alguma forma com as minhas palavras.

Enfim, é isso, gente. Qualquer novidade quanto ao canal eu aviso vocês! 

Beijos, até mais!