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18 fevereiro 2015

Aquele sobre o longa que poderia ser um curta

a evolução do emo gótico 
Pra ler ouvindo: Hero - Family of the Year

No começo do ano passado, em abril, eu li, pela primeira vez, uma matéria sobre o filme que representava "uma nova experiência cinematográfica". Esse mesmo que foi filmado ao longo de 12 anos com os mesmos atores e que hoje está na lista de favoritos de muita gente. Na época, fiquei super empolgada com a ideia e senti cada parte do meu corpo arrepiar durante os poucos minutos do trailer. Fiquei querendo mais. Os meses de espera até sua estreia (outubro do mesmo ano) foram torturantes e volta e meia eu me pegava assistindo novamente ao trailer (ou deixava "Hero" no repeat) só pra sentir aquela sensação boa me invadir novamente e tornar a espera mais agradável. Até que o filme estreou e eu fui assistir.

Hoje não é novidade pra ninguém que o filme sobre o qual eu falo é Boyhood e a ideia ambiciosa do diretor Linklater, que era uma aposta incerta com um risco financeiro enorme, acabou se tornando um grande sucesso. A obra ganhou reconhecimento e está concorrendo a várias categorias do Oscar - inclusive com grandes chances de levar a estatueta mais cobiçada da noite (de Melhor Filme) pra casa. Acontece que o que era pra ser uma revolução no cinema acabou se tornando um filme "ok" que se não fosse por todo esse marketing de ter sido produzido em 12 anos não seria nada extraordinário. Isso é a minha opinião, é claro, mas se você concorda ou simplesmente quer saber mais sobre o que eu acho é só continuar lendo caso contrário, não tenha medo de usar o X vermelho lá no canto direito da sua tela.

Como gosto de introduções gigantescas e sempre dou um contexto pra vocês, acho super válido dizer que a inspiração para esse texto surgiu enquanto eu assistia ao vídeo que a Anna usou pra ilustrar seu post sobre os filminhos do Oscar. Nele, a Patricia Arquette aparece recebendo o Globo de Ouro das mãos de Jesus ao som de Hero e esse fundo musical me fez lembrar da primeira vez que assisti ao trailer. Toda a historinha narrada no começo desse post me passou diante dos olhos e logo lembrei das expectativas altíssimas que nutri durante meses, lembrando também o quanto eu achei o filme decepcionante, arrastado, entediante e chato quando finalmente tive a oportunidade de saboreá-lo. Toda essa cadeia de eventos me deixou querendo escrever sobre isso pra finalizar, portanto, a minha saga com Boyhood e também pra poder apenas enviar esse post pras futuras pessoas que vierem me questionar porque eu não gostei do filme - cheguei num ponto que não aguento mais explicar isso individualmente, e a birra com filme só faz aumentar.

Um detalhe importante: quando fui pesquisar a matéria pra linkar pra vocês nesse post, reassisti ao trailer e me arrepiei DE NOVO. Concluí, portanto, que Boyhood poderia ser resumido a seu trailer. Assim, eu teria gostado. 

Eu falei no parágrafo acima que Boyhood poderia ser só o trailer e sei que isso soou meio exagerado da minha parte mas é a mais pura verdade. Ao longo trailer eu consegui sentir mais empatia pelo Mason e sua família do que senti assistindo ao longa. Muita gente se identificou com o menino por causa das suas descobertas, seus problemas, momentos de rebeldia mason emo gótico, coisas comuns que todos nós passamos ao longo da vida, mas pra mim pareceu apenas um recurso preguiçoso do diretor e sua equipe - não algo empático, de fato, como deveria ser. 

Embora tenha sido super inteligente usar uma família desfuncional - que faz muito mais pessoas se colocarem no lugar de qualquer personagem - não acho bacana apelar pra esse tipo de sentimento do expectador. Uma palavra que define bem Boyhood é: APELAÇÃO. Pois aqui vai outro exemplo: falar sobre determinado desenho animado que passava na época que aquela fase da vida do Mason foi filmada e agora nos despertar nostalgia, lembrando de como foi nossa vida naquela época. O mesmo pras músicas e alguns acontecimentos do mundo pop no geral. Um exemplo mais palpável ainda: mostrar a febre que foi HARRY POTTER logo no seu lançamento. Apelação total, só não enxerga quem não quer. Eu sei que foi dificultoso, ao longo de 12 anos, gravar e manter uma linearidade e coerência no enredo, na narrativa em si, mas era muito fácil pegar um elemento forte que estava acontecendo no mundo naquele momento e usar como trunfo para cair nas graças do público anos mais tarde. Como o André disse e eu tomo a liberdade de parafrasear: "Foram coisas do acaso. Um reality insosso."

Nesse sentido, Boyhood só funciona pra quem aceita participar do filme com suas próprias memórias e acaba se tornando uma grande máquina de forçar nostalgia. Parece que os personagens são todos genéricos, assim como as situações e os dramas cotidianos, que foram sendo encaixados de forma a apelar pras emoções de quem assiste. Como se "só" o fato de acompanhar a evolução dos personagens, dos atores, do mundo, enfim, bastasse. Como se não fosse necessária uma trama envolvente ou algo que prendesse a atenção do expectador...

Sendo totalmente parcial: eu, particularmente, gosto de personagens diferentes, interessantes, que me fascinem e despertem a minha curiosidade em acompanhar sua vida, conhecê-los melhor, enfim... Gosto de simplicidade, sim! Gosto de ver um filme contando uma história que poderia muito bem acontecer na vida real, sim! Mas Boyhood não tem personagens cativantes o bastante pra isso. Se é pra narrar nas telonas uma vida comum, que seja uma vida comum de ALGUÉM INTERESSANTE, ora bolas.

Achei os diálogos naturais demais num sentido ruim, as cenas muito paradas, um marasmo só e os dramas... SO BORING. Achei o filme todo um saco! O Ethan Hawke parecia estar com preguiça de atuar (também, não o culpo, porque que historinha mais chata!!!) e quem merece menção honrosa é a Patricia Arquette que, apesar de interpretar uma personagem com decisões totalmente questionáveis etc, fez o melhor que pode diante da roteiro que tinha em mãos e entregou uma atuação maravilhosa - merece o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas minha torcida ainda vai pra Emma Stone, enfim, isso é assunto pra outro post.

Em suma: posso dizer que não me senti desafiada em nenhum momento, e eu gosto de filmes que me tirem da minha zona de conforto, coisa que Boyhood justamente parece desestimular.

Pra finalizar, admito que 1. eu estava com expectativas altas demais e talvez por isso eu tenha me decepcionado tanto; 2. tomei birra do filme - e sei que esse é um motivo totalmente infundado pra não gostar de algo mas eu levo em consideração, me julguem; 3. de forma geral, o filme não me tocou. Eu realmente não sei se foram os atores que não me convenceram, o enredo que não me chamou a atenção ou a falta que eu senti de ser desafiada intelectualmente... Talvez tenha sido a forma como senti minha inteligencia insultada ao ser empurrada pra uma apelação atrás da outra ou eu simplesmente esteja falando besteiras... O caso é que termino esse texto da mesma forma que comecei: insisto pra que vocês ouçam Hero, assistam ao trailer e você aí que, assim como eu, não gostou do filme como um todo... Imagine que ele é só o trailer. E escreva sobre isso, por favor, tô cansada de sofrer bullying e me sentir sozinha por não fazer parte da panelinha "Boyhood Fãs".


P.s: eu tinha colocado o trailer original no fim desse post, mas uma amiga me enviou essa versão honesta e eu fiquei rindo durante muito tempo e só pude fazer uma coisa: concordar com cada piada que, de fato, tem fundamento. Divirtam-se! 

2 comentários:

  1. Brendha, achei que você foi um tanto severa com o filme, eu sei que muitas das suas observações são baseadas na identificação que você teve com o filme e quando você diz que o filme não te tocou, já demonstra sua total parcialidade. Mas, isso é natural, por isso escrever críticas, ignorando a nossa subjetividade, é uma tarefa bem complicada.
    É tudo muito relativo, por exemplo: você disse que o filme deveria retratar a vida comum de alguém interessante, mas, na minha convicção, a vida do Mason é tão comum quanto extraordinária, é a poesia da simplicidade, é o cinema conversando de perto com a vida, e o modo como o filme foi feito, tem que ser realmente exaltado e foi fundamental para o sucesso dele, pois trouxe um realismo incrível à obra.
    O que você considerou Apelação, eu achei que foram apenas estratégias para pontuar o período em que a história está se passando e, para isso, o diretor usou símbolos populares, como o Harry Potter, ou seja, não foi um recurso para agradar os fãs de Harry Potter, mas apenas para marcar uma determinada época. Da mesma forma, a citação de Mason sobre "Trovão Tropical" e "Batman" em uma determinada cena. Com isso o diretor consegue fazer com que a passagem do tempo seja mais orgânica possível.
    Achei as atuações excelentes, principalmente do Ethan Hawke, os conselhos e os diálogos dele com os filhos são tão simples quanto sensacionais.
    Há outros pontos que discordo acerca do seu texto, porém respeito totalmente a sua opinião e espero que não fique chateada comigo rs, são apenas pontos de vista diferentes, você apresentou seus argumentos e eu, um pouquinho dos meus.
    Posso dizer que sou fã de Boyhood, mas aquele fã consciente que sabe que o filme não é perfeito e que procura embasar suas opiniões e não impô-las como muitos fãs de Crepúsculo e 50 Tons de Cinza fazem rs

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  2. Já disse que amei o filme, né? Mas como eu falei, entendo quem acha chato, porque é sim um filme bem linear. Talvez o que tenha me encantado nele sejam esses elementos que você considerou apelação e eu nem tenha me dado conta disso. De uma forma de outra, ele me tocou bastante e ganhou a minha torcida. Não sei se vou rever tão cedo (ou rever AT ALL, prefiro não mexer naquilo que eu gosto e manter a boa impressão), mas se acontecer e eu começar a ver esses pontos que você ressaltou, te chamo pra discorrer sobre.

    Beijos.

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