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23 fevereiro 2015

Existe vida após o Oscar

Título alternativo: chupa, Boyhood Fãs!

Esse foi o 2º ano que eu realmente assisti aos filmes indicados e esperei pela cerimônia do Oscar. Tirando alguns problemas com o receptor da minha tv que fez o favor de pifar bem quando ia começar a premiação e eu tive que esperar acabar o BBB pra acompanhar a transmissão pela Globo, oremos, tudo ocorreu nos conformes. E tive, ao final da noite, uma grata surpresa e meu momento de glória  veio coroado pelo ganhador de Melhor Filme (sobre quem falarei melhor mais adiante).

Embora eu tenha achado a apresentação do Neil meio fuén (sdds Ellen, sdds selfie, sdds pizza), meu apego com os indicados estava infinitamente maior esse ano e por isso tudo ficou com um gostinho mais especial. Além disso obrigada, Senhor, por eu não ter que acordar cedo hoje, podendo ficar na frente da tv até às 2 da manhã - e na frente do computador até às 5 fazendo esse post.

De antemão, aviso que não tô aqui pra fazer resumão dos melhores momentos nem falar quantos prêmios cada filme levou. Só vim deixar minha opinião sobre os ganhadores e como eu não fiz um post contando pra vocês quais eram as minhas apostas vocês vão ter que acreditar na minha palavra. Chega de enrolação (porque eu preciso ir dormir!!!!) e vamos ao que interessa:


Melhor Ator Coadjuvante 

Queria que ganhasse: J.K. Simmons (ou Ed Norton)
Ganhou: J.K. Simmons

Amo o Edward Norton de todo o coração e seu personagem (Mike) em Birdman está insanamente maravilhoso. Embora eu soubesse, lá no fundo, que ele não levaria essa, minha torcida ele tinha - parcialmente. O que me deixa extremamente feliz é que J.K. Simmons, o dono da outra parte da minha torcida, acabou levando. O que eu achei merecidíssmo, visto que o cara mandou muito bem em Whiplash, dando vida, suor e sangue pelo personagem (Miles não curtiu isso) e, senhor, eu terminei de assistir ao filme amando o ator, odiando o personagem, querendo assistir tudo de novo e sem unhas nos dedos. #momentos


Melhor Atriz Coadjuvante 

Queria que ganhasse: Patricia Arquette (ou Emma Stone)
Ganhou: Patricia Arquette 

Eu torcia muito pela Emma Stone, mas tinha certeza que a Patricia Arquette ia levar, o que tava considerando super cool, porque acho que ela é a melhor coisa de Boyhood. Embora a Emma tenha me deixado com o coração na mão segurando aquele Oscar de lego quando a Patricia foi anunciada como vencedora, fiquei feliz em ter acertado essa porque foi merecido! Aliás, QUE DISCURSO, que mulher! Apenas amei.

Melhor Diretor

Queria que ganhasse: Iñarritu (ou Wes Anderson)
Ganhou: Iñarritu

Se eu tinha uma certeza nessa vida era que o Linklater já podia pegar a estatueta e levar pra casa assim que saiu a lista dos indicados por motivos óbvios. Eu torcia muito pelo Iñarritu e pelo Wes Anderson, mas tinha noção de que o jogo já estava ganho pro Richinho. Agora cês imaginem onde foi parar a minha cara quando foi anunciado (com certo espanto por parte do apresentador também, de brincs, mas me senti representada naquele momento) que o cara da vez era o Iñarritu. Só conseguia olhar pra tela e sentir. NO WAY. Nesse momento eu tive que tirar o notebook do colo, sair do sofá e dar uma SAMBADA no meio da sala porque, CARACA, eu não cabia em mim de tanta felicidade.


Melhor Atriz

Queria que ganhasse: Rosamund Pike
Ganhou: Julianne Moore

Eu estava torcendo muito, muito mesmo, pela Rosamund. Ela roubou a cena em Gone Girl e levou meu coração junto. Que mulher, que atuação! Mas, infelizmente, não foi dessa vez. Eu não assisti Still Alice, mas o que pode se esperar de Julianne Moore, né mores? Nada além de fabuloso. Parece que a academia concorda.


Melhor Ator

Queria que ganhasse: Michael Keaton
Ganhou: Eddie Redmayne

Michael Keaton deu vida a um dos personagens mais perturbados e engraçados que eu já tive o prazer de conhecer. As cenas em que ele conversa com o Birdman ou então aquela em que ele sai correndo de cuequinha na rua, ou, melhor ainda, ele atirando no próprio nariz, sendo que era pra ter acertado a têmpora (há discordâncias sobre essa parte do filme, mas vocês entenderam)... Como não amar? Ele se entregou, realmente, pro personagem e embora tenha representado uma versão caricata de si mesmo, conseguiu mostrar várias camadas (atuar maravilhosamente bem uma cena em que seu personagem está atuando mal) e era minha aposta. Infelizmente, errei essa também. E quem levou a estatueta foi o Eddie que foi super elogiado pelo seu papel, mas eu não vou dar pitaco antes de assistir ao filme. 

Ps: eu queria muito assistir A Teoria de Tudo antes do Oscar, mas fiquei com os dois pés atrás porque assisti há pouco tempo outro filme sobre a vida do Stephen Hawking (assistam aqui) em que o Benedict Cumberbatch interpreta o físico de maneira magistral. Não que eu ache que o Eddie não mereceu, mas ainda tenho a imagem do Ben na minha cabeça. Cês me entendem, né? Preciso assistir ao filme pra ver se me convenço de que essa premiação foi justa.

Melhor Filme

Queria que ganhasse: Birdman
Ganhou: Birdman

Apesar de eu não ter gostado tanto assim de Boyhood, eu tinha certeza absoluta que ele ia levar a estatueta pra casa. Bem verdade que as opiniões estavam divididas entre ele e Birdman, mas, vocês sabem, Boyhood tinha muito mais cara de "filme que a academia gosta de premiar". No final das contas, eu torcia por Birdman, que acabou levando, e fiquei infinitamente surpresa e feliz por isso. O que me resta agora, além dos sentimentos bons, é um arrependimento por ter apostado que Boyhood seria o escolhido em todos os bolões do Oscar que participei. Isso que dá não votar com o coração.

Menção honrosa para os prêmios artísticos dados para O Grande Hotel Budapeste, que mereceu todos, e àqueles que torciam por Boyhood fica a mensagem: tem outros prêmios, a vida segue (hehe). Além disso, o que foi aquele discurso do Graham? Ele proclamou "stay weird, stay different" e essa frase já virou meu lema pra vida! 

Depois dessa temporada exaustiva que precedeu o Oscar (e depois de ter ficado meses ansiando por esse momento), agora só posso esperar os memes que a internet - ah, a internet - vai trazer e me recompor porque no ano que vem tem mais! 

Pra finalizar gostaria de pedir que Ellen, volta, porfa! O Neil com essas piadinhas de professor de matemática (nada contra) não ornou!!!!! O ponto alto dele na noite foi fazendo cosplay de Riggan usando só cueca branca e um par de meias e nem assim eu consegui fazer mais do que esboçar um sorriso - ri mais quando vi os comentaristas do twitter indignados com a derrota de Boyhood pra Birdman, bem verdade.

E de tudo isso me resta uma constatação: não parece, mas existe, sim, vida após o Oscar. Resta descobrir como vivê-la.

18 fevereiro 2015

Aquele sobre o longa que poderia ser um curta

a evolução do emo gótico 
Pra ler ouvindo: Hero - Family of the Year

No começo do ano passado, em abril, eu li, pela primeira vez, uma matéria sobre o filme que representava "uma nova experiência cinematográfica". Esse mesmo que foi filmado ao longo de 12 anos com os mesmos atores e que hoje está na lista de favoritos de muita gente. Na época, fiquei super empolgada com a ideia e senti cada parte do meu corpo arrepiar durante os poucos minutos do trailer. Fiquei querendo mais. Os meses de espera até sua estreia (outubro do mesmo ano) foram torturantes e volta e meia eu me pegava assistindo novamente ao trailer (ou deixava "Hero" no repeat) só pra sentir aquela sensação boa me invadir novamente e tornar a espera mais agradável. Até que o filme estreou e eu fui assistir.

Hoje não é novidade pra ninguém que o filme sobre o qual eu falo é Boyhood e a ideia ambiciosa do diretor Linklater, que era uma aposta incerta com um risco financeiro enorme, acabou se tornando um grande sucesso. A obra ganhou reconhecimento e está concorrendo a várias categorias do Oscar - inclusive com grandes chances de levar a estatueta mais cobiçada da noite (de Melhor Filme) pra casa. Acontece que o que era pra ser uma revolução no cinema acabou se tornando um filme "ok" que se não fosse por todo esse marketing de ter sido produzido em 12 anos não seria nada extraordinário. Isso é a minha opinião, é claro, mas se você concorda ou simplesmente quer saber mais sobre o que eu acho é só continuar lendo caso contrário, não tenha medo de usar o X vermelho lá no canto direito da sua tela.

Como gosto de introduções gigantescas e sempre dou um contexto pra vocês, acho super válido dizer que a inspiração para esse texto surgiu enquanto eu assistia ao vídeo que a Anna usou pra ilustrar seu post sobre os filminhos do Oscar. Nele, a Patricia Arquette aparece recebendo o Globo de Ouro das mãos de Jesus ao som de Hero e esse fundo musical me fez lembrar da primeira vez que assisti ao trailer. Toda a historinha narrada no começo desse post me passou diante dos olhos e logo lembrei das expectativas altíssimas que nutri durante meses, lembrando também o quanto eu achei o filme decepcionante, arrastado, entediante e chato quando finalmente tive a oportunidade de saboreá-lo. Toda essa cadeia de eventos me deixou querendo escrever sobre isso pra finalizar, portanto, a minha saga com Boyhood e também pra poder apenas enviar esse post pras futuras pessoas que vierem me questionar porque eu não gostei do filme - cheguei num ponto que não aguento mais explicar isso individualmente, e a birra com filme só faz aumentar.

Um detalhe importante: quando fui pesquisar a matéria pra linkar pra vocês nesse post, reassisti ao trailer e me arrepiei DE NOVO. Concluí, portanto, que Boyhood poderia ser resumido a seu trailer. Assim, eu teria gostado. 

Eu falei no parágrafo acima que Boyhood poderia ser só o trailer e sei que isso soou meio exagerado da minha parte mas é a mais pura verdade. Ao longo trailer eu consegui sentir mais empatia pelo Mason e sua família do que senti assistindo ao longa. Muita gente se identificou com o menino por causa das suas descobertas, seus problemas, momentos de rebeldia mason emo gótico, coisas comuns que todos nós passamos ao longo da vida, mas pra mim pareceu apenas um recurso preguiçoso do diretor e sua equipe - não algo empático, de fato, como deveria ser. 

Embora tenha sido super inteligente usar uma família desfuncional - que faz muito mais pessoas se colocarem no lugar de qualquer personagem - não acho bacana apelar pra esse tipo de sentimento do expectador. Uma palavra que define bem Boyhood é: APELAÇÃO. Pois aqui vai outro exemplo: falar sobre determinado desenho animado que passava na época que aquela fase da vida do Mason foi filmada e agora nos despertar nostalgia, lembrando de como foi nossa vida naquela época. O mesmo pras músicas e alguns acontecimentos do mundo pop no geral. Um exemplo mais palpável ainda: mostrar a febre que foi HARRY POTTER logo no seu lançamento. Apelação total, só não enxerga quem não quer. Eu sei que foi dificultoso, ao longo de 12 anos, gravar e manter uma linearidade e coerência no enredo, na narrativa em si, mas era muito fácil pegar um elemento forte que estava acontecendo no mundo naquele momento e usar como trunfo para cair nas graças do público anos mais tarde. Como o André disse e eu tomo a liberdade de parafrasear: "Foram coisas do acaso. Um reality insosso."

Nesse sentido, Boyhood só funciona pra quem aceita participar do filme com suas próprias memórias e acaba se tornando uma grande máquina de forçar nostalgia. Parece que os personagens são todos genéricos, assim como as situações e os dramas cotidianos, que foram sendo encaixados de forma a apelar pras emoções de quem assiste. Como se "só" o fato de acompanhar a evolução dos personagens, dos atores, do mundo, enfim, bastasse. Como se não fosse necessária uma trama envolvente ou algo que prendesse a atenção do expectador...

Sendo totalmente parcial: eu, particularmente, gosto de personagens diferentes, interessantes, que me fascinem e despertem a minha curiosidade em acompanhar sua vida, conhecê-los melhor, enfim... Gosto de simplicidade, sim! Gosto de ver um filme contando uma história que poderia muito bem acontecer na vida real, sim! Mas Boyhood não tem personagens cativantes o bastante pra isso. Se é pra narrar nas telonas uma vida comum, que seja uma vida comum de ALGUÉM INTERESSANTE, ora bolas.

Achei os diálogos naturais demais num sentido ruim, as cenas muito paradas, um marasmo só e os dramas... SO BORING. Achei o filme todo um saco! O Ethan Hawke parecia estar com preguiça de atuar (também, não o culpo, porque que historinha mais chata!!!) e quem merece menção honrosa é a Patricia Arquette que, apesar de interpretar uma personagem com decisões totalmente questionáveis etc, fez o melhor que pode diante da roteiro que tinha em mãos e entregou uma atuação maravilhosa - merece o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas minha torcida ainda vai pra Emma Stone, enfim, isso é assunto pra outro post.

Em suma: posso dizer que não me senti desafiada em nenhum momento, e eu gosto de filmes que me tirem da minha zona de conforto, coisa que Boyhood justamente parece desestimular.

Pra finalizar, admito que 1. eu estava com expectativas altas demais e talvez por isso eu tenha me decepcionado tanto; 2. tomei birra do filme - e sei que esse é um motivo totalmente infundado pra não gostar de algo mas eu levo em consideração, me julguem; 3. de forma geral, o filme não me tocou. Eu realmente não sei se foram os atores que não me convenceram, o enredo que não me chamou a atenção ou a falta que eu senti de ser desafiada intelectualmente... Talvez tenha sido a forma como senti minha inteligencia insultada ao ser empurrada pra uma apelação atrás da outra ou eu simplesmente esteja falando besteiras... O caso é que termino esse texto da mesma forma que comecei: insisto pra que vocês ouçam Hero, assistam ao trailer e você aí que, assim como eu, não gostou do filme como um todo... Imagine que ele é só o trailer. E escreva sobre isso, por favor, tô cansada de sofrer bullying e me sentir sozinha por não fazer parte da panelinha "Boyhood Fãs".


P.s: eu tinha colocado o trailer original no fim desse post, mas uma amiga me enviou essa versão honesta e eu fiquei rindo durante muito tempo e só pude fazer uma coisa: concordar com cada piada que, de fato, tem fundamento. Divirtam-se! 

15 fevereiro 2015

Amar seria fácil, se não fossemos pessoas

cena do filme: a felicidade não se compra
Ontem eu assisti "A Felicidade Não se Compra" pela primeira vez e não poderia fazer outra coisa se não colocá-lo naquele cantinho do meu coração reservado pros filmes-mais-especiais-da-vida. Eu até poderia falar sobre a obra como um todo, como eu geralmente faço, mas quando tento explicar o quão maravilhoso é esse filme eu simplesmente não consigo me ater às características técnicas, nem fugir do clichê: confiem em mim, apenas assistam. O caso é que logo nos minutos inicias eu já fui pega pelo filme e não tinha mais jeito. Percebi que a obra seria uma daquelas que me ganham assim, despretensiosamente, em uma única cena... E apesar de ter amado a mensagem sobre amizade que o filme traz, eu refleti sobre outras coisas e é sobre elas que vim falar com vocês.

Imaginem só: o nosso protagonista, George Bailey, é um menino lá pelos seus 12 anos, e está brincando de escorregar no gelo formado sobre um lago com seu irmão mais novo, Harry, e mais uns amigos. Eles brincam, se divertem, até que Harry acaba ultrapassando a área ~segura~ e atinge uma camada mais fina de gelo que invariavelmente cede com seu peso. Sem saber nadar, grita por socorro e George logo corre pra ajudá-lo. Ele consegue salvar o irmão, mas acaba ficando surdo de um ouvido, pois estava muito frio, etc. Temos aqui o primeiro ato de bondade do George, que é sucedido de vários outros (que vocês precisam conhecer, então assistam ao filme logo, é sério), mas ainda não é sobre isso que eu quero falar, especificamente.

Lembram que eu disse que ele ficou surdo de um ouvido? Pois bem... Alguns dias depois, recuperado da gripe ou whatever que ele teve, George volta ao trabalho que tinha depois da escola: ajudante em uma farmácia/sorveteria (isso não faz sentido, mas ok). Logo que chega ao local, se depara com Mary, sua amiga, aparentemente da mesma idade que ele, esperando sentada à frente do balcão. Ela pede um sorvete SEM COCO e ele serve o sabor que ela pediu, fazendo uma piadinha sobre ela não gostar de coco - todo fofo, muito amor. Quando ele se abaixa pra pegar coco embaixo do balcão (sim, ele vai colocar coco no sorvete dela, porque ele leu na revista National Geographic que o coco vem de outro país e ele, como jovem-futuro-explorador, acha aquilo o máximo), pelo lado de fora Mary, toda tímida, se aproxima de George e sussurra: "é desse ouvido que você é surdo?" Sem resposta, ela continua: "Então... Eu te amo, George, eu vou te amar até o fim da minha vida." E ele levanta a cabeça logo em seguida, entregando o sorvete à menina, que sorri. 

Agora imaginem a minha cara ao ver essa cena. Tá certo que eu me derreto por qualquer coisa, mas a delicadeza, a fofura, a inocência e o amor não-declarado deles (porque até então tinham 12 anos, enfim)... Como não ficar encarando a tela por uns segundos, pensando em como aquele momento é representativo? Como não refletir sobre uma porrada de coisa a partir desse pequeno ato? Me expliquem, porque pra mim isso foi a reação mais que óbvia.

Eu, particularmente, nunca tive certeza do que é o amor - digo, o amor romântico, entre duas pessoas. Já li muito a respeito do assunto, já assisti a vários filmes que caracterizavam o amor da sua própria maneira, já achei que senti (ou senti, verdadeiramente?) o amor... Mas nunca tive plena certeza. Já escrevi milhões de textos tentando explicar - pra mim mesma - o que é esse sentimento, mas ainda assim parecia impossível ter certeza de qualquer coisa. Porque é tudo tão particular. É tudo tão inconstante quando estamos falando de relacionamentos entre pessoas... Porque estas são, em sua essência, complexas... Têm suas próprias convicções, suas experiências, memórias e tudo isso faz com que elas enxerguem tudo à sua própria maneira. O amor é, portanto, em termos práticos e generalizados, o resultado da junção de dois mundos completamente diferentes, personalidades diferentes, enfim, e isso pra mim soa tão incerto que eu nunca soube descrever, sentir...

Fiquei pensando nisso tudo durante o resto do filme inteiro e quando "The End" apareceu na tela eu tive, pela primeira vez em muito tempo, uma certeza: 

A menina diz que odeia coco só para ver o menino alegar, todo entusiasmado, com toda a sabedoria que seus 12 anos lhe permitem ter, que é impossível odiar coco, porque ele vem de outro país e isso basta para amá-lo... Isso é amor. Assim como sussurrar no silêncio que o ama e sempre amará, até o fim da vida (e cumprir a promessa, diga-se de passagem), também é amor. 

Amor é deixar o orgulho de lado e roubar um beijo no meio de um desentendimento, soltar um "eu te amo" inesperado e receber outro em resposta. Amor é encontro, desencontro, dar voltas, mais voltas, e no fim acabar voltando pra mesma pessoa. É casar, ter filhos, problemas, dívidas, incertezas, noites mal dormidas, vontade de morrer, mas viver, sabendo que seria impossível viver sem aquela pessoa, assim como pra ela a vida perderia a graça sem a sua presença. Amor é errar muito pra poder acertar um pouco, é ceder pra poder receber, amar alguém é abrir mão, deixar ir, pra ver se volta... Eu poderia ficar dando os mais variados exemplos do que pode ser o amor, mas vocês já entenderam, né?

Eu, que sempre tive medo do amor porque temo tudo aquilo que não entendo por completo, percebi que amar também é sentir medo, e não entender tudo por completo. Talvez a lição mais importante que fica é que um "eu te amo" é uma frase que isolada não significada nada, assim como dependendo do contexto ela pode tomar uma forma totalmente diferente, se anunciando no silêncio, que diz tudo o que precisa ser dito. 

Aproveitando os tons de cinza que estão super em alta nesses últimos tempos, posso finalizar o texto dizendo que, de forma geral, amor é o oposto de tudo aquilo que eles tentam romantizar naquela história mal escrita. Se você quer ver um romance de verdade, amor pra valer, não perca seu tempo nem gaste seu dinheiro indo ao cinema ver uma relação auto-destrutiva, problemática, possessiva e doentia... Aproveite seu tempo assistindo, por exemplo, os clássicos: Casablanca, E o Vento Levou e "A Felicidade Não se Compra" também, é óbvio. E depois venham me falar de amor.

02 fevereiro 2015

Sobre a paz e as reflexões que ela me inspira

beach.
     
Pra ler ouvindo: The Nights - Avicii
"Make memories we knew would never fade..."

Eu gosto de mudanças. Gosto muito, principalmente quando as coisas estão estagnadas de tal forma que só levando uma sacudida forte dá pra ajeitar tudo o que está fora do lugar - ou bagunçar ainda mais, pra arrumar tudo depois. Em contrapartida, também amo aquela sensação de segurança que bate quando parece que tudo está como deveria estar. A constância de alguns momentos, lugares e/ou pessoas me fazem sentir segura e embora eu odeie a rotina com todas as minhas forças em algumas situações, em outras me agarro à ela como a Rose se agarrou aos destroços (e às lembranças) do Titanic. Às vezes é preciso um boia pra se segurar no meio desse oceano agitado que é a vida. E tenho tido uns (muitos) momentos assim, que estão me fazendo sentir grata, feliz e, consequentemente, muito inclinada a escrever.

Eu não tinha parado pra pensar em como tudo está assim - como descrito no parágrafo anterior - até ontem à noite, quando a inspiração para esse texto surgiu durante uma caminhada à beira-mar, com uma pessoa cuja companhia muito me agrada. Assim que cheguei em casa, me peguei pensando em como tudo aquilo parecia uma cena de filme - a lua cheia e brilhante iluminava nossos passos sobre a areia molhada, enquanto a água oscilava, ora molhando nossos pés, ora voltando em suas pequenas ondas para o mar - e em como tudo estava constante, desse jeito bom, seguro. Me peguei relembrando as últimas semanas e me deparando com tantas coisas maravilhosas, tantos pequenos prazeres, que eu poderia citá-los todos aqui, só pelo prazer de "vivê-los", de certa forma, por uma segunda vez.

Eu poderia falar, por exemplo, sobre a paisagem - nem tão bonita assim, mas que me traz um punhado de lembranças boas - que não canso de contemplar através da janela do carro em todas as viagens de ida e volta para a praia, ou então falar sobre os dias ensolarados que rendem banhos de mar inesquecíveis... Sobre os almoços de domingo em família, os momentos impagáveis jogando baralho, "Na Testa" e outros jogos com meus primos e amigos que sempre rendem pérolas inesquecíveis (tipo meu priminho escrevendo "Deligo, do Frozen", querendo escrever "Let It Go", e quase matar a gente tentando descobrir o que era aquilo na testa do outro primo), poderia falar também sobre essas caminhadas à luz da lua e das estrelas (como aquela que me inspirou a escrever esse texto), enfim, poderia comentar sobre todos esses detalhes, mas prefiro deixar essa lacuna pra vocês preencherem com suas próprias memórias e bagagem emocional. 

Falando sobre todas essas coisas boas, que me despertam lembranças incríveis, lembrei de uma amiga que gosta de escrever somente quando está triste. Ela precisa sempre de um sentimento ruim como faísca e geralmente a mágoa é seu ponto de partida. Eu, ao contrário disso, uso qualquer sentimento como motivação para escrever um texto. Inclusive prefiro os momentos bons, pois quando eu invento de reler o que eu escrevi, vou lembrando o que estava sentindo naquele momento e, de alguma forma, consigo resgatar uma porcentagem de felicidade daquele texto. Por isso estou escrevendo agora. A paz que estou sentindo é tão grande e vem junto com uma série de sentimentos igualmente poderosos e revigorantes, que eu não posso simplesmente deixar isso passar em branco, preciso registrar. 

Daí que exatamente daqui um mês começam minhas aulas e minha vida vai voltar a ser uma bagunça. A faculdade vai estar mais frenética do que nunca, vou ter muitas aulas, muita coisa pra ler, estudar, aprender... E nem toda a organização do mundo - que estou tentando colocar em prática desde já, mas está fail - vai conseguir manter tudo isso nos eixos. 

De certa forma, até gosto desse caos que é a faculdade, porque, como eu disse no início do texto, eu gosto de mudanças e bagunças que chegam para nos tirar do marasmo. Entretanto, hoje eu só quero aproveitar essa paz. E o amanhã, que ainda não me pertence, vai ser igualmente bem vindo e vou aproveitá-lo ao máximo, seja ele como for.